A depressão é um transtorno mental comum, mas que frequentemente se manifesta de forma diferente em homens e mulheres. Nos homens, os sintomas depressivos tendem a ser menos reconhecidos, tanto por eles mesmos quanto por profissionais de saúde, devido a fatores culturais e sociais que desencorajam a expressão emocional.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2023), a depressão é uma das principais causas de incapacidade no mundo e afeta cerca de 280 milhões de pessoas globalmente. No entanto, os homens costumam receber menos diagnósticos do que as mulheres, apesar de apresentarem taxas mais altas de suicídio, o que levanta preocupações sobre o subdiagnóstico e o estigma associado à saúde mental masculina.
Sintomas comuns da depressão em homens
Embora muitos sintomas da depressão sejam comuns a todos os sexos — como tristeza persistente, perda de interesse em atividades e alterações no sono —, os homens frequentemente expressam o sofrimento emocional de formas mais “externalizantes”. Isso pode incluir:
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Irritabilidade e raiva: Em vez de tristeza, muitos homens manifestam depressão por meio de comportamentos agressivos ou explosões de raiva (KESSLER et al., 2003).
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Abuso de substâncias: Há uma correlação significativa entre depressão não tratada e o aumento do consumo de álcool ou outras drogas entre os homens (MACHADO et al., 2020).
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Isolamento social: A retirada do convívio social e o afastamento de amigos e familiares são sinais comuns, muitas vezes mascarados como “autossuficiência” (ROCHA; SEABRA, 2019).
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Cansaço constante e alterações no sono: A fadiga crônica, insônia ou excesso de sono são queixas frequentes.
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Dores físicas sem causa aparente: Sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, musculares ou gastrointestinais são comuns (WHO, 2023).
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Desempenho reduzido no trabalho: Dificuldade de concentração, perda de produtividade e desmotivação são indicadores muitas vezes negligenciados.
Além disso, os homens podem resistir a procurar ajuda por acreditarem que isso demonstra fraqueza. Essa resistência é reforçada por construções culturais de masculinidade que associam vulnerabilidade a inferioridade (COURTENAY, 2000).
A importância do diagnóstico precoce
A falta de reconhecimento dos sintomas pode atrasar o início do tratamento, agravando o quadro e aumentando o risco de complicações como o suicídio. Por isso, é essencial promover o debate sobre saúde mental entre homens e desconstruir os estigmas que dificultam o autocuidado.
Campanhas de conscientização, capacitação de profissionais para reconhecer padrões específicos de sintomas em homens e estratégias de saúde pública que considerem essas particularidades são passos importantes na redução do sofrimento e das consequências graves da depressão.
Referências
COURTENAY, W. H. Constructions of masculinity and their influence on men’s well-being: a theory of gender and health. Social Science & Medicine, v. 50, n. 10, p. 1385–1401, 2000.
KESSLER, R. C. et al. The epidemiology of major depressive disorder: results from the National Comorbidity Survey Replication (NCS-R). JAMA, v. 289, n. 23, p. 3095–3105, 2003.
MACHADO, D. B. et al. Uso de álcool e depressão no Brasil: evidências da Pesquisa Nacional de Saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 23, e200058, 2020.
ROCHA, M. S.; SEABRA, P. R. C. Masculinidade e saúde mental: desafios no cuidado de homens com depressão. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 8, p. 3065–3074, 2019.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression. 2023. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/depression. Acesso em: 20 abr. 2025.