A depressão na infância é um transtorno frequentemente subestimado, embora sua prevalência esteja em crescimento e seus impactos possam ser significativos para o desenvolvimento emocional, social e escolar da criança. Estudos mostram que a depressão pode afetar crianças desde a primeira infância, ainda que os sintomas se manifestem de maneira diferente em comparação aos adultos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3,4% das crianças entre 5 e 14 anos são afetadas por transtornos depressivos no mundo, com variações regionais e culturais relevantes (WHO, 2017). No Brasil, uma pesquisa epidemiológica realizada pelo Instituto Nacional de Saúde Mental (INSERM) estimou que aproximadamente 1 a 2% das crianças em idade pré-escolar e até 3% das crianças em idade escolar apresentam sintomas compatíveis com transtorno depressivo maior (COUTINHO; MENEZES, 2016).
Os sintomas em crianças nem sempre se manifestam como tristeza profunda, como ocorre em adultos. Irritabilidade, isolamento, queda no desempenho escolar, mudanças no apetite e no sono, bem como queixas somáticas frequentes (como dores de cabeça ou de estômago), são sinais comuns que podem indicar sofrimento psíquico (FONSECA; DEL PRETTE, 2018).
A identificação precoce é fundamental, pois a depressão infantil pode prejudicar de forma duradoura o desenvolvimento emocional e social da criança, além de aumentar o risco de outros transtornos mentais na adolescência e vida adulta. Segundo Birmaher et al. (2007), episódios depressivos na infância estão associados a maior recorrência, cronicidade e impacto funcional quando comparados aos adultos.
Diante desses dados, é essencial que pais, educadores e profissionais da saúde estejam atentos aos sinais e sintomas da depressão infantil e que políticas públicas de saúde mental incluam programas específicos de prevenção, diagnóstico e tratamento precoce para essa faixa etária.
Referências
BIRMAHER, B. et al. Childhood and adolescent depression: a review of the past 10 years. Part I. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, v. 46, n. 11, p. 1427–1439, 2007.
COUTINHO, M. P. L.; MENEZES, M. C. A depressão infantil e sua correlação com aspectos familiares. Revista Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v. 18, n. 3, p. 165–176, 2016.
FONSECA, P. N.; DEL PRETTE, Z. A. P. Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem: teoria e prática. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2018.
WHO – World Health Organization. Depression and other common mental disorders: global health estimates. Geneva: World Health Organization, 2017.