No Canadá em 2004, durante a infecção por SARS, foram observados que 28,9% das pessoas que estavam em quarentena tiveram sintomas de Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e 31,2% de sintomas depressivos1. Em 2003 países da Ásia sofreram com a epidemia do SARS, o fator mais relacionado ao aumento do estresse agudo foi a quarentena obrigatória, 5% dos profissionais da linha de frente responderam os critérios para estresse agudo, 15% relataram sintomas depressivos e 9% não queriam trabalhar devido ao medo de contaminação, relutando a trabalhar e querendo pedir demissão2.
Em dezembro de 2019 na China, mais precisamente na província de Hubei, em Wuhan, surge a nova doença causada pelo coronavírus, COVID3. Rapidamente se espalhou pela China e pelo resto do mundo, gerando muitos internamentos e óbitos devido ao seu rápido contágio e letalidade. Os países são obrigados a mudar o dia a dia de toda sua população com regras de quarentena, isolamento social e distanciamento social3. Essa mudança de repentina, com o rápido colapso da saúde ocasiona muito óbitos gerando ansiedade, depressão e estresse na população da maioria dos países onde passou4.
Na fase inicial do surto, um estudo em 194 cidades da China mostrou que 28,8% apresentavam sintomas de ansiedade grave e moderado, 16,5% da população sintomas depressivos grave e moderado, 8% sintomas de estresse grave e moderado5. Outro estudo numa comunidade Basca-Espanha, realizado com 976 pessoas, 32% apresentaram sintomas de ansiedade grave, 39% de depressão grave e 33% de estresse grave3.
A ordem pelo distanciamento social aumenta os sintomas de ansiedade, depressão e estresse na população, principalmente para os indivíduos em grupos de risco3. Os mais jovens apresentaram mais sintomas de estresse que os idosos3. A saúde física e mental é afetada nas pessoas com o diagnóstico de COVID-19 ou quando são suspeitas de serem portadoras4. As consequências mais comuns para as pessoas que sofrem o contágio são: solidão, negação, ansiedade, depressão, insônia e desespero, fatores que diminuem a adesão ao tratamento4. Alguns casos apresentam agressividade e suicídio4. Pesquisa com profissionais que cuidavam de pacientes com COVID-19 em Wuhan mostrou que 50,7% dos profissionais relataram sintomas depressivos, 44,7% sintomas de ansiedade e 36,1% distúrbio do sono. Outro estudo realizado na China com 1830 profissionais da linha de frente (enfermeiros, médicos e prestadores de serviço), 44,6% apresentaram sintomas de ansiedade, 50,4% sintomas depressivos, 34% insônia e 71,5% angústia.
O impacto pelo diagnóstico de COVID pode levar a uma série de emoções desagradáveis, as pessoas não sabem o que fazer, o que irá acontecer. O início com falta de ar pode ser confundida com asma ou dificuldade de respirar que sentimos normalmente, após um dia ou dois é observado que não é uma falta de respiração “normal”, o indivíduo se sente sufocado, precisando dormir deitado, fazer o exame de sangue e depois o exame biologia molecular (RT-PCR), com amostras de secreções das vias respiratórias irá confirmar o diagnóstico6. Neste momento os sintomas de ansiedade e depressão aumentam, a quarentena intensifica estes sintomas6.
Os profissionais passam por um período estressor, isto aumenta a probabilidade do aparecimento de sintomas de ansiedade, depressão e estresse. O medo do que pode acontecer, o contágio, preocupação com parentes, amigos, vizinhos, filhos e colegas pode fazer com que essas emoções fiquem mais intensas nesse período, afetam os profissionais de saúde, os que estão trabalhando em serviços essenciais e as pessoas em distanciamento social. Buscar informações confiáveis, não passar o dia verificando informação na televisão, jornais, mídias sociais, praticar atividade física, assistir filme, ler livro e conversar sobre outros assuntos pode ajudar a diminuir os sintomas de ansiedade, depressão e estresse e consequentemente, melhorar a saúde mental no momento de distanciamento social.
Vitor Souza Mascarenhas
CRP 03/04408
Sócio-Proprietário das clínicas CIAC e CliorP
Mestrando em Tecnologias em Saúde
Relator do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da EBMSP
Professor da Pós-Graduação em Neuropsicologia da Unifacs
Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental
Especialista em Terapia Analítico-Comportamental
Especialista em Neuropsicologia e Reabilitação
Site:https://vitorsouzamascarenhas.com.br/
tel: (71)98243-9034
REFERÊNCIAS:
- Hawryluck, L. et al. SARS Control and Psychological Effects of Quarantine ,. Emerg. Infect. Dis. 10, 1206–1212 (2004).
- Lin, C. Survey of Stress Reactions Among Health Care Workers Involved With the SARS Outbreak. Psychiatr. Serv. 55, 5–7 (2004).
- Ozamiz-etxebarria, N., Dosil-santamaria, M., Picaza-gorrochategui, M. & Idoiaga-mondragon, N. Stress , anxiety , and depression levels in the initial stage of the COVID-19 outbreak in a population sample in the northern Spain Niveles de estrés , ansiedad y depresión en la primera fase del brote del COVID-19 en una muestra recogida en el norte de E. REPORTS PUBLIC Heal. 36, 1–9 (2020).
- Li, W. et al. Progression of Mental Health Services during the COVID-19 Outbreak in China. 16, (2020).
- Wang, C. et al. Immediate Psychological Responses and Associated Factors during the Initial Stage of the 2019 Coronavirus Disease ( COVID-19 ) Epidemic among the General Population in China. J. Environ. Res. Public Heal. 2, 3–25 (2020).
- Talyta Vespa. Crise de ansiedade e choro: paciente com covid-19. UOL (2020). Available at: https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/12/crise-de-ansiedade-e-choro-paciente-com-covid-19-detalha-isolamento.htm. (Accessed: 9th May 2020)
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