O artigo “A empatia como vivência”, de Ranieri e Barreira (2012), propõe uma reflexão profunda sobre o conceito de empatia a partir da perspectiva fenomenológica, especialmente com base na obra de Edith Stein. Os autores defendem que a empatia não deve ser compreendida como uma técnica ou habilidade treinável, como muitas vezes é abordada nas ciências humanas e na saúde, mas sim como uma vivência intersubjetiva essencial à constituição da pessoa e à compreensão do outro como um “outro eu”.
A empatia, segundo a fenomenologia, é um ato sui generis, distinto de sentimentos como simpatia ou antipatia. Trata-se de uma forma de apreensão do outro que preserva sua alteridade, sem confundir-se com suas vivências. Os autores destacam que essa vivência empática é composta por dois momentos fundamentais: o reconhecimento do outro como vivente e a tentativa de compreender suas experiências, mesmo que estas não possam ser vividas originariamente por quem observa.
A corporeidade desempenha papel central na constituição da empatia. Através da intercorporeidade, é possível captar sensorialmente a vivência do outro, o que reforça a dimensão ética e epistemológica da empatia. Nesse sentido, a empatia não apenas permite o diálogo e a construção de comunidades humanas, mas também fundamenta uma ética do cuidado e da escuta.
Por fim, os autores criticam a tecnificação da empatia, que tende a obscurecer sua natureza vivencial e ética. A empatia, como vivência, exige abertura ao outro e disposição para acolher sua singularidade, sendo, portanto, um fenômeno complexo que não se reduz a protocolos ou treinamentos.
Referência ABNT: RANIERI, Leandro Penna; BARREIRA, Cristiano Roque Antunes. A empatia como vivência. Memorandum, Belo Horizonte, v. 23, p. 12–31, 2012.