A temática das altas habilidades/superdotação tem sido amplamente discutida no campo da psicologia educacional, destacando-se pelas características cognitivas excepcionais dos indivíduos que a apresentam, como raciocínio lógico avançado, criatividade elevada, memória diferenciada e intensa curiosidade intelectual (PÉREZ; DOMÍNGUEZ; GONZÁLEZ, 2015). No entanto, a compreensão integral desses sujeitos exige considerar também aspectos socioemocionais, entre os quais a empatia se destaca como elemento fundamental.
A empatia, definida como a capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos alheios, possui componentes cognitivos e afetivos que influenciam diretamente as interações interpessoais (DAVIS, 1983). Quando presente em indivíduos com altas habilidades, a empatia potencializa não apenas o desempenho acadêmico, mas também a capacidade de liderança, a resolução de conflitos e a construção de relações interpessoais saudáveis.
Segundo Azevedo et al. (2018), a empatia tem sido objeto de validação psicométrica no contexto brasileiro, evidenciando sua relevância para o desenvolvimento de competências socioemocionais. A Escala de Empatia de Bryant (1982), adaptada por Koller, Caminha e Mello (2001), tem sido amplamente utilizada para mensurar essa habilidade em crianças e adolescentes, inclusive em populações com altas habilidades.
Além disso, estudos indicam que indivíduos superdotados com níveis elevados de empatia tendem a apresentar maior inteligência emocional, o que favorece a tomada de decisões éticas e a inclusão de múltiplas perspectivas em contextos colaborativos (PÉREZ; DOMÍNGUEZ; GONZÁLEZ, 2015). A ausência dessa competência, por outro lado, pode contribuir para o isolamento social e dificuldades de adaptação, mesmo diante de elevado desempenho cognitivo.
Dessa forma, a articulação entre empatia e altas habilidades configura-se como uma via promissora para o desenvolvimento integral do sujeito, promovendo não apenas excelência intelectual, mas também sensibilidade humana e responsabilidade social.
Referências
AZEVEDO, R. S.; SILVA, M. C.; GOMES, W. B. Validação da Escala de Empatia de Davis para o contexto brasileiro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 34, n. 1, p. 1–9, 2018.
BRYANT, B. K. An index of empathy for children and adolescents. Child Development, v. 53, n. 2, p. 413–425, 1982.
DAVIS, M. H. Measuring individual differences in empathy: Evidence for a multidimensional approach. Journal of Personality and Social Psychology, v. 44, n. 1, p. 113–126, 1983.
KOLLER, S. H.; CAMINHA, R. M.; MELLO, A. L. Adaptação da Escala de Empatia de Bryant para o português. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 14, n. 2, p. 293–306, 2001.
PÉREZ, L. M.; DOMÍNGUEZ, A.; GONZÁLEZ, C. Social and emotional characteristics of gifted children. Electronic Journal of Research in Educational Psychology, v. 13, n. 3, p. 603–626, 2015.