Quem cuida também precisa de cuidado: os impactos emocionais do Alzheimer nos familiares

O cuidado de idosos com doença de Alzheimer (DA) representa uma tarefa complexa e emocionalmente exigente, especialmente quando realizado por familiares. O artigo de Manzini e Vale (2020) apresenta uma investigação sobre os níveis de sobrecarga, estresse, ansiedade e depressão em cuidadores familiares, destacando os impactos da progressão da doença sobre a saúde mental desses indivíduos.

O estudo teve como objetivo avaliar sintomas emocionais em cuidadores familiares de idosos com DA. Foi conduzido de forma transversal, descritiva, correlacional e quantitativa, com uma amostra de 66 cuidadores atendidos no Ambulatório de Neurologia Cognitiva e Comportamental da Universidade Federal de São Carlos (SP). Os participantes foram divididos em três subgrupos conforme o estágio da demência: leve, moderado e grave.

Foram aplicados os seguintes instrumentos:

  • Zarit Burden Scale (ZBS): para avaliar a sobrecarga do cuidador.
  • Self-Report Questionnaire (SRQ-20): para mensurar estresse emocional.
  • Beck Anxiety Inventory (BAI): para identificar sintomas de ansiedade.
  • Beck Depression Inventory (BDI): para detectar sintomas depressivos.

Todos os instrumentos foram adaptados para a cultura brasileira e apresentaram boa validade.

Os dados revelaram que:

  • 47,3% dos cuidadores do grupo DA grave apresentaram sobrecarga intensa.
  • 86,4% dos participantes demonstraram níveis significativos de estresse, com destaque para o grupo DA grave (94,8%).
  • 57,5% apresentaram níveis severos de ansiedade, especialmente nos grupos moderado e grave.
  • 31,9% apresentaram sintomas de depressão leve, com menor incidência de depressão moderada (6%).

Além disso, observou-se que a maioria dos cuidadores era do sexo feminino, com idade média de 56 anos, escolaridade média de 8 anos e vínculo familiar direto (filhos ou cônjuges).

O estudo reforça que o avanço da DA está diretamente relacionado ao aumento da carga emocional dos cuidadores. A dedicação quase exclusiva ao cuidado, somada à falta de apoio e reconhecimento, contribui para o surgimento de transtornos emocionais. A literatura aponta que mulheres são mais vulneráveis a esses efeitos, devido à maior carga de trabalho informal e menor suporte social.

Cuidar de um idoso com Alzheimer pode gerar sobrecarga física e emocional significativa. O estudo recomenda a criação de grupos de apoio com equipes multiprofissionais, capazes de oferecer suporte psicológico, orientação e estratégias de enfrentamento. Tais ações são fundamentais para preservar a saúde dos cuidadores e garantir qualidade no cuidado prestado.

Referência bibliográfica: MANZINI, Carlene Souza Silva; VALE, Francisco Assis Carvalho do. Transtornos emocionais evidenciados por cuidadores familiares de idosos com doença de Alzheimer. Dementia & Neuropsychologia, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 56–61, mar. 2020. Disponível em: .