Logo-Vitor-Mascarenhas-Terapeuta-03

Evidências de Efetividade da Terapia Cognitivo-Comportamental em Crianças nos Transtornos de Ansiedade

Os transtornos de ansiedade na infância têm uma prevalência de 4 a 20% em crianças e adolescentes1. Isto tem sido colocado com um dos principais fatores para as altas dos transtornos de ansiedade em adultos2. Os mesmos critérios diagnósticos são seguidos na clínica, com a diferença para ansiedade de separação, fenômeno típico da infância e adolescência3.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) dos transtornos de ansiedade, fez as primeiras publicações dos seus fundamentos empíricos em 1994, fazendo um primeiro ensaio clínico randomizado3. O primeiro estudo mostrou resultados da eficácia da TCC na infância, onde foram selecionadas crianças de 8 a 13 anos de idade com diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada e com evitações3. Houve uma significativa melhora nos sintomas de ansiedade nas crianças, resultados que foram mantidos após um ano de tratamento3. No segundo estudo, mostrou novamente a eficácia da TCC e foi replicado nos países da Austrália e Canadá4–6.
Na investigação clínica devem ser observadas em seguintes variáveis: contexto da criança, coleta de dados pode envolver escola e família, investigar possíveis estressores familiares e/ou sociais1. A avaliação inicial cabe a atenção para os fatores de risco e proteção para a criança na família e na escola, relações com os pessoas e entre os familiares1.
Os transtornos de ansiedade etiologicamente envolvem variáveis biológicas e ambientais, os fatores identificados para o Transtorno de ansiedade na infância, são: estilos de apego inseguro, temperamento da criança, presença de transtorno de ansiedade nos pais, estilos parentais de superproteção e comportamentos de evitação1. O modelo etiológico dos transtornos de ansiedade:

  1. Influências genéticas e ambientais;
  2. Circuitos neurais das emoções;
  3. Processos biológicos;
  4. Tendências comportamentais7–9.

A etiologia comportamental é baseada na evitação aprendida, sendo explicada pelos conceitos do condicionamento clássico e operante1. A etiologia cognitiva é baseada no papel das percepções não realísticas e ameaçadoras das situações10.  Pessoas ansiosas são  geralmente pessimistas, percepção errada das situações, a catastrofização é uma das principais distorções cognitivas cometidas com frequência10. Estão sempre sofrendo ameaças de dano físico e social, a interpretação do evento de maneira errada é fundamental para os transtornos de ansiedade2. As crianças assim como os adultos passam a ficar hipervigilantes as sensações corporais, essas interpretações errôneas gerando mais preocupação e reforça a as interpretações erradas2.
A TCC para os transtornos de ansiedade envolve técnicas cognitivas e comportamentais9.  O tratamento inicia-se com duas etapas:

  1. Estratégias facilitadoras;
  2. Exposição de situações temidas.

A terapia inicia com a psicoeducação ao modelo de tratamento10.  O principal objetivo é ensinar a criança a reconhecer sinais de ansiedade, identificando os processos cognitivos ao mesmo tempo ensinando o treinamento em relaxamento11.  O protocolo é um dos protocolos que teve sua efetividade comprovada e segue os critérios da American Psychological Association (APA)12,13. O tratamento não se restringe as técnicas mas também a sensibilidade do terapeuta infantil, sendo este o fator mais importante do tratamento, outras variáveis são as comorbidades, nível de desenvolvimento, estressores familiares e ambientais e a condição socioeconômica5. Os protocolos ajudam o terapeuta mas o tratamento é de acordo a história de vida de cada criança5.
Estudo multicêntrico, controlado e randomizado revelou resultados eficientes com relação a TCC nos transtornos de ansiedade na infância. O índice de crianças que haviam melhorado os sintomas forma de 80% para o tratamento combinado, 59% para TCC e 54% com sertralina14. O tratamento combinado foi superior aos dois tipos de terapia isoladamente14. Antes destes estudos os tratamentos com crianças eram considerados provavelmente eficazes1. Após estes estudos, muitos artigos e livros publicando resultados da efetividade da TCC na infância para os transtornos de ansiedade mostraram a evolução neste tratamento15–17.

REFERÊNCIAS:

  1. Petersen, C. S. Evidências de efetividade e procedimentos básicos para terapia cognitivo-comportamental para crianças com transtornos de ansiedade TT – Effectiveness and basic procedures evidencein cognitive-behavioral therapy for childhood anxiety disorders. Rev. bras. psicoter 13, 39–50 (2011).
  2. Regina, A., Castillo, G. L., Recondo, R. & Asbahr, F. R. Transtornos de ansiedade ranstornos de ansiedade. Rev. Bras. Psiquiatr. 22, 22–25 (2000).
  3. Albano A.; Kendall P. Cognitive behavioral therapy for children and adolescents with ansiety disorders: clinical research advances. Int. Rev. Psychiatry 14, 129–134 (2002).
  4. Barrett, P. M., Rapee, R. M. & Dadds, M. R. Family treatment of childhood anxiety: A controlled trial. J. Consult. Clin. Psychol. 64, 333–342 (1996).
  5. Kendall, P. C. & Beidas, R. S. Smoothing the trail for dissemination of evidence-based practices for youth: Flexibility within fidelity. Prof. Psychol. Res. Pract. 38, 13–20 (2007).
  6. Mendlowitz, S. L. et al. Cognitive-behavioral group treatments in childhood anxiety disorders: The role of parental involvement. J. Am. Acad. Child Adolesc. Psychiatry 38, 1223–1229 (1999).
  7. A, R. M. D. F. F. Terapia Cognitiva com crianças e adolescentes. (LPM editora, 2009).
  8. J, M. t; M. Anxiety disorder in children and adolescents. (Thue Guilford Press, 2004).
  9. M., P. C. B. E. M. J. G. Terapias Cognitivo-Comportamental para crianças e adolescentes: ciência e arte. in Terapia Cognitivo-Comportamental para os transtornos de ansiedade (ARTMED, 2010).
  10. P, S. Fronteiras da terapia cognitiva. (Casa do Psicólogo, 2005).
  11. Piacentini, J. et al. 24- and 36-week outcomes for the child/adolescent anxiety multimodal study (CAMS). J. Am. Acad. Child Adolesc. Psychiatry 53, 297–310 (2014).
  12. Kendall, P. C. et al. Therapy for youths with anxiety disorders: A second randomized clinical trial. J. Consult. Clin. Psychol. 65, 366–380 (1997).
  13. Kendall, P. C. Treating anxiety disorders in children: Results of a. Expo. TASKS Ther. ALLIANCE Slater, L p, 34 (1994).
  14. PC, W. J. A. A. B. B. C. S. S. J. G. G. R. M. M. J. W. B. I. S. M. J. K. Cognitive behavioral therapy, sertraline, or a combination in childhood anxiety. N. Engl. J. Med. 26, 2753–2766 (2008).
  15. Stallard, P. Ansiedade Terapia Cognitivo-Comportamental para Crianças e Jovens. (Wainer, Ricardo, 2010).
  16. Douglas, Michael; Robichaud, M. Tratamento Cognitivo-Comportamental para o Transtorno de Ansiedade Generalizada. (2009).
  17. Beck, Aaron; Clark, D. Terapia Cognitiva para os Transtornos de Ansiedade. (Meyer, Elisabeth, 2012).