Logo-Vitor-Mascarenhas-Terapeuta-03

FUNDAMENTOS, CONCEITOS E APLICAÇÕES EM TERAPIA COGNITIVA

INTRODUÇÃO
A terapia cognitiva (TC) e a forma genérica como muitos hoje conhecem como terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a abordagem da psicologia mais procurada atualmente. Desde 1963, quando Beck passou a publicar sobre a depressão e TC, houveram muitos progressos que melhoraram o modelo cognitivo.
Mesmo com a evolução da TC, seus pressupostos básicos permanecem até hoje. A premissa de que os pensamentos distorcidos influenciam as nossas emoções e comportamentos. A pesquisa e prática clínica mostraram a efetividade da TC na redução dos sintomas e recaídas, com ou sem medicação, para muitos transtornos psiquiátricos.
Beck então resolveu aplicar sua teoria e terapia para outros transtornos, como: depressão, suicídio, transtornos de ansiedade e fobias, transtornos de personalidade e abusos de substâncias, problemas interpessoais, raiva, hostilidade, violência, e efeitos com medicação. A criação de protocolos cognitivos-comportamentais para uma gama de transtornos médicos e psicológicos chamaram a atenção, a eficácia do tratamento também. Testou então no tratamento em dor crônica, relação conjugal conflituosa, transtornos somáticos na infância, bulimia e problemas de comer compulsivo. Em 2008, na publicação de Knapp e Beck, já tinham 330 artigos mostrando os resultados de intervenções cognitivo-comportamentais. Outros estudos mostraram a eficácia com neuroimagem. Estudos recentes mostraram que a TCC produz mudanças fisiológicas e funcionais do cérebro.
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
            O modelo cognitivo foi desenvolvido por Beck para esclarecer os processos psicológicos da depressão, na tentativa de demonstrar os erros da teoria freudiana. Baseado na sua pesquisa sistemática e observação clínica, ele propôs que os sintomas da depressão poderiam ser explicados em termos cognitivos como interpretações distorcidas de situações, relacionadas á ativação de representações negativas de si, do mundo e do futuro (tríade cognitiva).
A consequência disso foi de questionar o conceito de inconsciente da psicanálise e seu método terapêutico praticado. Diferenciou da psicanálise com abordagem cognitiva, focando o tratamento no presente e na análise psicológica de experiências acessíveis. A contribuição da psicanálise foi a estruturação primário e secundária da cognição. A terapia cognitiva também herdou da psicanálise os processos intrapsíquicos e não no comportamento observável. Porém existem mais semelhanças com a terapia comportamental nos seus procedimentos terapêuticos.
A influência das ciências cognitivas e da psicologia cognitiva foram importantes para a base da TC. George Kelly, Teoria cognitiva das emoções de Richard Lazarus, Bandura com a auto regulação e Donald Meichenbaum, além de Arnold Lazarus. A abordagem científica da Terapia Comportamental ajudou na construção de muitos procedimentos e estratégias terapêuticas, como: estrutura de sessão, atividade do terapeuta ativa, objetivos do tratamento, formulação, hipóteses, feedback, técnicas de solução de problemas, treinamento de habilidades sociais, tarefa de casa e experimentos entre as sessões, medição de variáveis mediacionais e desfechos.
Do ponto de vista filosófico é vista como mais humanista do que a terapia comportamental, lida com sentimentos e pensamentos.
PRINCÍPIOS DA TC
O seu pressuposto fundamental descreve que a maneira como pensamos, influencia como nos sentimos e nos comportamos. O objetivo da TC é reestruturar e corrigir os pensamentos distorcidos e desenvolver soluções para produzir essas mudanças e melhorar transtornos emocionais.
Os pensamentos automáticos são considerados diferentes do pensamento racional, acontecem de maneira tão rápida, fazendo com que a interpretação desses pensamentos seja geralmente disfuncional, ou seja, equivocada. São confundidos com os sentimentos, não fazemos um raciocínio reflexivo deles. Na TC as pessoas são treinadas a identifica-los. De acordo com Beck, esses pensamentos são passíveis de identificação e reflexão, então é possível, perceber, identificar e avalia-lo.
Na origem desses pensamentos distorcidos estão os esquemas (crenças nucleares). São estruturas cognitivas internas relativamente duradouras de armazenamento de características genéricas ou prototípicas de estímulos, ideias ou experiências que são utilizadas para organizar novas informações de maneira mais significativa, influenciando como os eventos são percebidos e conceitualizados. Crenças nucleares introduzidas nas estruturas cognitivas desses pensamentos modelo a forma de pensar de cada pessoa e geram erro cognitivos encontrados na patologia.
Os esquemas são formados desde a infância, e determinam como processamos as informações e experiências no presente. A história de vida de cada determina esses esquemas ou ajuda a inibi-los. Esquemas funcionais, fazem com que uma pessoa pense de maneira mais realista. Em associação as crenças nucleares, encontra-se as crenças subjacentes, que são pressupostos/regras e a ativação dessas regras influenciam na capacidade de avaliação objetiva dos eventos. Distorções cognitivas são acionadas á medida que os esquemas disfuncionais são ativados.
PROCEDIMENTOS E TÉCNICAS
A TC não é um conjunto de técnicas aplicadas mecanicamente. O terapeuta tem que saber utilizar de suas habilidades terapêuticas para garantir eficácia do tratamento e procedimentos da TC.
CONCEITUALIZAÇÃO DO CASO
No início da terapia, o terapeuta desenvolve sua conceitualização do caso e ela permanece no decorrer do tratamento, mudando á cada dado clínico importante trazido a terapia, a conceitualização será alterada e atualizada. Deve ser de maneira individual. Contém uma avaliação histórica e prospectiva dos pensamentos.
TÉCNICAS COGNITIVAS E COMPORTAMENTAIS
A separação entre as técnicas cognitivas e comportamentais é somente para fins didáticos. Pois as técnicas afetam e modificam os pensamentos como também a maneira como a pessoas se comporta. Muitas técnicas serão utilizadas dependendo do perfil cognitivo do transtorno, fase da terapia e conceitualização cognitiva específica de cada caso. Exemplos de técnicas cognitivas: identificação, questionamento e correção de pensamentos automáticos, reatribuição e reestruturação cognitiva, ensaio cognitivo e procedimentos que envolvem mentais. No início é focada nos pensamentos automáticos por serem mais fáceis de serem identificados, reestruturá-los e modifica-los.
Técnicas comportamentais são associadas no programa de TC de várias meniras.
Grande parte da TC é voltada para resolução de problemas. Treinamento de habilidades sociais é importantes ferramenta utilizada. Foi desenvolvida para formato individual, grupo, casais, famílias, todas as faixas etárias, em diferentes situações. As indicações da TC são determinadas pelas variáveis do terapeuta e paciente, do que pela natureza do transtorno.
REFERÊNCIA:
KNAPP, Paulo and BECK, Aaron T. Fundamentos, modelos conceituais, aplicações e pesquisa da terapia cognitiva. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2008, vol.30, suppl.2, pp.s54-s64. ISSN 1516-4446.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462008000600002.